2006-03-17

"Lisboa : cidade triste e alegre"

Data de 1959 a edição deste livro que começou por ser impressa em fascículos e vendida porta a porta pelos seus autores, dois jovens estudantes de arquitectura, Vítor Palla e Costa Martins. Durante três anos fotografaram Lisboa, misturaram-se com as suas gentes, muitas vezes disfarçando as câmaras entre casacos e gabardinas. Da recolha resultaram uma média de 6000 imagens, das quais foram escolhidas cerca de 200. O aproveitamento de recursos, necessário à fraca capacidade económica dos autores, ajudou a ditar o grafismo arrojado. Sobre a autoria das imagens, a opção foi de não as individualizar até porque, por reconhecimento dos próprios fotógrafos, algumas delas não seriam facilmente referenciáveis em relação aos autores.
Enquanto o mundo vivenciava a pop art , Portugal vestia de cinzento e o livro, com edição de autor, não passou de um fracasso.
Após o encerramento da Ether, a editora de António Sena, responsável pela impressão dos fascículos, vários deles foram encontrados e recuperados sob a forma de livros. Pela vontade de Costa Martins, desaparecido em 1995, mais nenhum exemplar seria publicado.

Pelo seu valor documental e gráfico, esperemos que Vítor Palla não venha a acrescentar mais nenhuma determinação à vontade de Costa Martins e que os anos passem para que a obra se torne do domínio público. Até lá, folheá-lo, só numa biblioteca ou colecção particular. Mas vale seguramente o esforço, porque fotografia portuguesa da época não se reduz a Gérard Castello – Lopes.

Lisboa : cidade triste e alegre

9 comentários:

Anónimo disse...

Alguns destes dados estão errados. Mesmo errados.

Leonoreta disse...

Um comentário anónimo, sem fundamentar aquilo que diz, não me parece o melhor auxiliar para eventual correcção.

Anónimo disse...

Cara Leonoreta, o comentário é só um comentário, não tenta de forma alguma corrigir o que escreveste. Nem deve ser entendido como uma provocação ou qualquer coisa parecida.

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contudo, posso dar 1 exemplo:

"Após o encerramento da Ether, a editora de António Sena, responsável pela impressão dos fascículos, vários deles foram encontrados e recuperados sob a forma de livros."

Os fascículos foram impressos em 1959, nessa altura o António Sena era uma criança.
A Ether foi fundada em 1982 pelo António Sena e com o apoio de outros colaboradores. Nesse ano recuperaram e encadernaram cerca de duas centenas de livros com fascículos originais. Os volumes que conseguiram recuperar foram colocados à venda ao público na inauguração da Ether, com a exposição "Lisboa e Tejo e Tudo" onde se podiam encontrar imagens dos arquivos dos autores que não foram incluídas no livro.

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cumprimentos

Leonoreta disse...

À correcção de erros, agradeço, Contudo Sena tinha 33 anos em 1959, dado que nasceu em 1926.

Se a Ether, por efectivamente apenas ter sido criada nos anos 80 - 82 creio ser realmente a data correcta, não pode ser responsável pela edição dos fascículos, já António Sena pode, em apoio aos autores.
Quanto à exposição, sim, é das poucas coisas que encontro escritas sobre este livro, o facto de as fotos terem estado expostas, creio que cerca do triplo das que estão no livro e julgo que na galeria do Diário de Notícias - no momento já não tenho esse assunto presente

De qualquer das formas, talvez pudessemos confrontar as informações que ambos temos (as minhas provêm de um professor de história da fotografia que lecciona em dois organismos cuja credibilidade é habitualmente reconhecida) e corrigirmos então os eventuais erros. Como decerto concordará, e porque me parece interessado(a) no assunto, apesar da importância deste livro, é muito pouco o que se encontra escrito sobre ele. Se o pouco que há contribuísse para uma noção mais próxima da exacta da sua história, melhor. Estou convicta:

leonoretalambreta(at)gmail.com

Leonoreta disse...

Só mais uma coisa, e disto não tenho mesmo memória certa, pelo que não sei se estou a errar: julgo que haveria qualquer relacionamento entre o espaço físico da Ether e o local de impressão ou armazenamento dos fascículos em questão.
Mas uma troca de mails poderá ajudar-nos a esclarecer.

Anónimo disse...

Bom, o António Sena que falas não é o mesmo António Sena que está envolvido na história da Ether. O António Sena da Ether deu aulas nas Belas Artes de Lisboa e na AR.CO, tem cerca de 60 anos, pois nasceu na década de 40 e vive na Ilha do Pico há uns bons aninhos, por lá deu aulas de Educação Visual cerca de 10 anos e de há já algum tempo para cá dedicou-se completamente a um bonito projecto de agricultura biológica. De facto não existe muita informação sobre o livro e nem tudo o que podes encontrar é realmente verdade, ou as coisas não foram bem assim, mas isso também pode não ser muito importante. O que realmente me parece mais importante é que o livro é um documento de extrema relevância que bem estudado pode ser uma excelente ferramenta para melhor compreender a história da cultura contemporânea portuguesa e europeia. Também pode ser analisado e comparado com outras publicações contemporâneas a nível internacional, pois este não ficará nunca aquém de qualquer título importante, como obra de autor (neste caso de dois autores que recusam a assinatura – isso é outra coisa interessante, o que eles disseram sobre isso e o que se foi escrevendo por vezes chega a ter piada).

O livro foi edição de autor (pois não tinham editora) e muita coisa que se escreveu sobre a edição original é puro romantismo. A edição foi distribuída pelo Círculo do Livro, que pertencia ao Victor Palla e a Orlando da Costa (escritor/poeta – curiosidade: pai do ministro António Costa e do jornalista Ricardo Costa).
Em 1959, os autores imprimiram o livro na extinta tipografia Neogravura. Fizeram o trabalho de impressão em estreita colaboração com o impressor (o Sr Rocha - posso estar mesmo enganado em relação ao nome do senhor, neste momento o meu ramo de actividade é outro e não consigo encontrar os meus apontamentos). Em 82 quando o António Sena imprimiu os catálogos da exposição, fê-lo com a ajuda do mesmo impressor noutra casa impressora - foi pura coincidência – e isto foi-me contado por fontes seguríssimas.

Não sei ao certo quais foram as fontes do professor que referes mas podes encontrar mais alguma informação em:

SENA, António, História da Imagem Fotográfica em Portugal — 1839-1997, Porto, Porto Editora, 1998.

MARQUES, Lúcia, A construção fotográfica da cidade - Lisboa, cidade triste e alegre (1956/1982), revista Insi(s)tu #7 e #8, pp 106 -113, Porto, 2004

PARR, Martin e BADGER, Gerry, The Photobook : A History Volume I, pp 212 -213, Londres, 2004

ou nos documentários:

Lisboa, cidade triste e alegre - Luís Camanho, 2005
Olho de Vidro - Margarida Gil, 1982

Há mais informações em textos de Pedro Miguel Frade, Margarida Medeiros, Sérgio Mah, Vanda Gorjão, Luís Camanho, Alexandre Pomar, Miguel Amado e Tereza Siza entre outros, mas penso que os documentos que te anunciei já devem ajudar para quereres saber mais sobre o livro. Em alguns casos podem ajudar a confundir mais, o que também pode ser interessante.

No entanto, parece-me que o melhor documento é mesmo o índice remissivo do livro. Isso é sem dúvida o mais interessante.

Em relação à tua questão – os fascículos que sobraram estiveram armazenados durante décadas na cave da Associação Amizade Portugal-Cuba. A casa pertencia a Costa Martins e tanto ele como a mulher eram dirigentes da Associação citada. Não tinha mesmo nada a ver com a Ether que realmente só aparece muito mais tarde. O próprio António Sena só descobriu o livro por acaso quando andava à procura de outro volume nos arquivos da Ordem dos Arquitectos – ouvi esta história da boca do próprio. O que desmente o que se diz em relação a ter crescido com o livro em casa do pai (o arquitecto e tb fotógrafo António Sena da Silva que não tinha o livro).

Por motivos vários prefiro manter o anonimato, espero que compreendas e respeites. Por vezes a palavra escrita pode ser mal interpretada e apesar de poder parecer ofensivo quando fiz o primeiro comentário, asseguro-te que não foi essa a intenção. O facto de afirmar que alguns dos dados estão errados, não é assim tão mau, uma vez que toda a gente que foi escrevendo sobre o livro, inclusive os próprios autores, foram dando informações que não correspondiam à verdade, mas é o que temos e o que acabou por ficar.

Leonoreta Lambreta é giro.
Cumprimentos

Leonoreta disse...

Aceito e respeito. Contudo, confesso que estou "cusca" em relação a ti: escreves como não é comum e aparentas saber o que não é usual.

A minha reacção tem mais a ver com o facto de geralmente não nutrir grande (nenhuma mesmo) consideração pelos anónimos, embora um nick name não passe de anonimato mais ou menos encapotado.

Para todos os efeitos, o e-mail do meu nick mantém-se disponível, mesmo que te queiras manter anónimo.

Anónimo disse...

Não acertam com a data de nascimento do homem... Aqui fica a minha contribuição: António Sena nasceu em Lisboa a 14 de Julho de 1953...

V Costa Martins disse...

Olá! É interessante ver toda essa informação... não sabia de metade dela e sou da familia directa!
Agradeço a informação! :)